No meio da algazarra se sobressaia a voz de Fulana, que argumentava algo indistinguível, porém com muita ênfase – e muitas palavras.
Andei mais um pouco até ouvir o Sicrano [creio que namorado da Fulana] disparar:
“Mas afinal, pô, isso é bom ou ruim?” Mais uma torrente de palavras que eu nao entendia e ele manda de novo “Mas me diz! Isso é bom ou ruim?”. E estava francamente agoniado. Continuei andando e perdi o alegre grupo de vista. Ou cheguei no carro, não lembro mais. De toda forma o que ficou martelando a minha cabeça foi a angústia de ter que definir que ‘sei lá que coisa’ tinha que ser boa OU ruim.
De forma absoluta: ou boa ou ruim. Não podia ser meio boa e meio ruim; um quarto boa e três quartos ruins; ou mesmo não ser nem boa nem ruim; ou, ainda, o que acredito ser impensável: ser boa E ruim, ao mesmo tempo.
E porquê isso martelava o pensamento? Porque nada na vida é somente bom ou somente ruim, ou mesmo absoluto. Talvez aceitar isso seja mais problemático, sei lá. Talvez se a Fulana tivesse apaziguado logo o Sicrano eu estivesse agora pensando em outra coisa, menos besta.